Quando alguém se queixa de estar triste, ou compartilha um problema, é muito comum que a resposta seja algo tentando animar a pessoa: “Não é tão ruim assim, veja por esse outro lado”, ou então “Pelo menos não é esse outro problema aqui…”, e quando a própria pessoa também não está bem, às vezes a resposta é um “Você está melhor que eu, olha só o meu problema…”. A intenção da resposta pode ser ajudar a pessoa a se sentir melhor, mas é bem provável que esta fala tenha justamente o efeito inverso!
Quando alguém – seja criança, adolescente ou adulto – procura alguém de confiança para expressar sentimentos difíceis ou contar algum problema, muitas vezes o objetivo da fala não é pedir ajuda para que o problema seja resolvido, nem ser convencido de que o sofrimento não é assim tão grande. Boa parte das vezes o que a pessoa está buscando é validação. Nós humanos gostamos de sentir que aquilo que estamos vivendo é compreendido e apoiado por alguém. Muitas vezes só o que precisamos é que sejamos ouvidos, um colo (literal ou figurativamente falando). Pense em alguma vez que você compartilhou alguma tristeza com alguém. Como você se sentiu com a resposta da pessoa? Se você ouviu um: “não precisa ficar triste”, a intensidade do seu sentimento realmente diminuiu, ou no fundo você sentiu que aquela pessoa não estava te ouvindo, ou te compreendendo?
E de que forma podemos validar o sentimento de alguém que está compartilhando uma experiência difícil? Para isso precisamos entender a situação do ponto de vista de quem está vivendo, e para isso é preciso realmente ouvir. Ouvir querendo escutar e entender, não querendo corrigir ou negar. Não precisamos concordar ou gostar com o motivo da tristeza, da raiva ou da ansiedade para validá-la. Precisamos apenas compreender que para aquela pessoa, algo está doendo.
Ajudar a pessoa a nomear aquilo que ela está vivendo também pode faze-la se sentir acolhida e ouvida. “Nossa, parece que você ficou realmente frustrado que você não tirou a nota que queria na prova” (Não importa que a nota tenha sido 9,9, muitas vezes pode doer esse 0,1 que faltou!). “Parece que você se sentiu muito injustiçado por não ter ganhado o sorteio”. Na hora do acolhimento, racionalizações, explicações lógicas ou histórias de superação costumam não ajudar. Ao invés de conexão, esse tipo de resposta pode produzir afastamento.
Para conseguirmos validar, precisamos lembrar que não tem nada errado em sentir sentimentos difíceis. Sentir tristeza, raiva, ansiedade, medo… tudo isso faz parte de uma vida rica e plena de sentidos. Ao validarmos os sentimentos difíceis que pessoas queridas nos relatam, estamos ajudando-as a construir uma vida emocional saudável. Ensinamos que está tudo bem sentir o que quer que se esteja sentindo (nós não escolhemos nossos sentimentos, não é justo culpar ninguém pelo que sente!). É só a partir do reconhecimento, aceitação e validação do que se está sentindo, que se permite construir ações que não sejam controladas por um estado emocional intenso.
Muitos pais relatam o medo de validar sentimentos difíceis e acabar dessa forma aumentando a intensidade deles. Com frequência a invalidação (o oposto de validação) vem de um lugar de tentar diminuir o sofrimento do outro, de tentar tirar a pessoa daquele lugar emocional difícil em que ela se encontra. Quando pensamos nos nossos filhos, é especialmente difícil lidar com a dor deles, já que a dor deles muitas vezes dói ainda mais em nós mesmos… Ao invés de negar a dor do outro para assim não entrar em contato com a própria dor, que tal usar as experiências difíceis para se conectar com quem se ama, e assim crescerem juntos?
Nem sempre vai ser possível acolher e validar, mas quanto mais cuidarmos para olhar para as emoções de quem nos pede ajuda, mais forte e genuína vai ficando essa conexão.
Espero que esse texto te ajude a refletir sobre como você está cuidando das emoções difíceis das pessoas próximas a você, e também das suas próprias emoções difíceis (é importante validarmos nossas próprias emoções, autoinvalidação também tem efeitos negativos poderosos).